Foto de Thaynara Pellerin no Unsplash
Nana Datto faz uma reflexão sobre a importância de falar sobre inclusão com as crianças após viver uma experiência cotidiana
Tenho pensado muito em quão cansada e desgastada estou de frequentar lugares públicos, sejam eles supermercados, shoppings, praias ou restaurantes. As pessoas me encaram demais e, mesmo de máscara, dá pra saber o tamanho do estranhamento que elas sentem ao me ver. Muitas vezes, a minha vontade é de não sair de casa (o que nesse momento de pandemia é recomendável!). Meu questionamento, entretanto, é fora do contexto atual da Covid-19: mesmo sendo positiva e esperançosa, penso em não sair de casa pois me sinto cansada dos olhares cruéis das pessoas.
Quando falo de inclusão, gosto de dar ênfase nas crianças. Elas são curiosas, espontâneas e não disfarçam o que pensam, o que torna o contato mais desafiador. É claro que não devemos culpar crianças por serem verdadeiras, mas meu questionamento, aqui, é para os pais, educadores e responsáveis pela educação. Sabemos que as crianças são empáticas e abertas ao aprendizado, então, o que falta para que se tornem mais capazes de entender e promover a inclusão?
Leia mais:
Conheça a história da Nana Datto
Pessoas com deficiência não devem ser infantilizadas
No último domingo, por exemplo, fui caminhar na areia de uma praia próxima à minha casa, por ser um excelente exercício de fortalecimento para as minhas pernas. Durante a caminhada, passei por duas meninas de 6 a 8 anos e ouvi o seguinte comentário: “ ela não consegue andar direito porque é neném”.
A fala das meninas me fez refletir sobre qual o conceito de “neném” que os adultos passaram para elas. Por que uma pessoa que anda de um jeito diferente seria necessariamente um bebê? A resposta está em muitos outros ambientes da nossa sociedade: as pessoas com deficiência são frequentemente infantilizadas e encaradas como incapazes de viver com independência e responsabilidade sobre suas próprias trajetórias. E vou além: essas crianças têm contato com pessoas com deficiência? E, quando têm, são incentivadas a acreditar que somos “coitadinhas” ou doentes?
Como podem ver, meu questionamento é para os adultos. Peço que reflitam sobre a importância de inserir conceitos, no dia a dia, para que tenhamos cada vez mais pessoas inclusas. Na minha experiência como pessoa com deficiência, eu acredito no simples, que é conversar e apresentar o mundo diverso para essas crianças, um mundo onde as pessoas não são iguais e não estão em caixas. As pessoas são plurais e isso é algo bonito na nossa existência.
Falar sobre inclusão com crianças é uma necessidade urgente
Não tenho a intenção de julgar os pais e leitores que estão acompanhando esse texto. Meu objetivo é deixar como mensagem a importante reflexão sobre como a sociedade já naturalizou, muitas vezes sem maldade, a infantilização da pessoa com deficiência e o “achismo” de que a deficiência é uma condição digna de pena.
Eu amo crianças e acredito que elas serão as responsáveis por um mundo com mais equidade, inclusão, diversidade e respeito. Por isso, falar de inclusão com a sociedade, principalmente com as crianças, é urgente, é pra ontem!
Mas como fazer isso, Nana? Por meio de conversas verdadeiras e reais, atividades pedagógicas e principalmente a convivência com a diversidade, entendendo que não somos iguais. As pessoas, em sua individualidade, têm necessidades específicas, mas coletivamente, têm direitos iguais. A meu ver, a única forma do ser humano dar certo, como indivíduo e como sociedade, é por meio da inclusão real e permanente. Vamos juntos promover esse mundo inclusivo?