Ter esperança e querer ser feliz são sentimentos fundamentais para oferecer a motivação necessária para levantar todos os dias da cama, enfrentar dificuldades, vencer mais um dia de trabalho ou estudo e comemorar a sensação de prazer por coisas realizadas. Ultimamente, porém, as pessoas estão sentindo um certo constrangimento em expor essa satisfação. Em um mundo onde qualquer sentimento positivo é confundido com “positividade tóxica”, nossa tendência é manter a discrição quando vencemos desafios e conquistamos pequenas ou grandes vitórias. Afinal, não queremos ser confundidos com aquelas pessoas “iludidas”, que não aceitam que a vida também é feita de tristezas e frustrações.
Na minha trajetória, conheço bem os estragos causados por essa temida “positividade tóxica”. Quando experimentei crises de ansiedade ou síndrome do pânico, por exemplo, as palavras de conforto que tentavam me convencer de que eu não tinha motivos para passar por aqueles problemas não me ajudavam, pelo contrário, só me faziam sentir pior. Já as pessoas que me tratavam com empatia e acolhiam meus sentimentos sem, contudo, julgar ou desmerecer os meus problemas, traziam a força que eu precisava para buscar as ferramentas necessárias para superar as crises. A validação dos meus sentimentos, inclusive, foi fundamental para que eu buscasse terapia, que me ajudou muito a me conhecer melhor e consequentemente entender os gatilhos do meu sofrimento.
.Como pessoa com deficiência, eu também conheço de perto as consequências das “good vibes” sem limites que permeiam discursos de encorajamento. Não é incomum as pessoas me classificarem como “guerreira”, “lutadora”, um “exemplo” ou um “anjo”. A verdade é que não sou nada disso. Ou, pelo menos, não sou só isso. Como todo mundo, tenho muitas qualidades e muitos defeitos. Me classificar apenas pela “força” me reduz a alguém incompleto, como se eu não tivesse o direito de errar, me arrepender e voltar atrás..
Nem toda positividade é tóxica
Reconhecer que a positividade sem limites não ajuda, porém, não me faz acreditar que a vida fica melhor quando assumimos apenas os aspectos negativos do dia a dia. Eu tenho um propósito de vida bem definido, que é lutar por um mundo mais diverso e acessível para todos. Batalhar por esse mundo melhor me faz sentir esperança todos os dias, e é movida por esse sentimento que eu me envolvo com as lutas diárias que atravessam meu caminho. E quando eu conquisto meus objetivos, comemoro muito! Afinal, são esses momentos que trazem o combustível necessário para seguir a busca por ser feliz.
Quem assume uma vida pautada apenas pela negatividade não experimenta o sentimento verdadeiro de gratidão por realizar coisas boas. Torna-se um “ranzinza” que afasta as pessoas do seu convívio, corre o risco de não ter amigos verdadeiros e, o pior, abre mão de ter sonhos. E o que somos nós sem sonhos?
Por isso, meu convite hoje é que você reflita sobre a importância do equilíbrio. Quando as coisas não acontecem da forma que desejávamos, está tudo bem sentir raiva, tristeza e frustração. Mas se, ao contrário, você tiver motivos para celebrar, não deixe passar a oportunidade. Aproveite os momentos de alegria pois são eles que nos fortalecem para seguir desejando que a vida seja boa e bonita.